JUVENTUDE EM MARCHA
Portugal / França / Suíça | 2006 | 35mm | Cor | 154’
Realização: Pedro Costa
Cópia: cedida pelo autor, 35mm, versão original legendada em português

Sinopse
Pedro Costa voltou à comunidade do Bairro das Fontaínhas, depois de Ossos e No Quarto da Vanda: “Em Juventude em Marcha, o bairro está já destruído e segue um dos seus residentes, Ventura. É um filme sobre um homem que carrega um passado, um homem com fantasmas. O filme também lida com a relação filial (…). É uma história de fidelidade ao nascimento de um bairro, e Ventura contribui muito para esta história de fidelidade”.

 

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“JUVENTUDE EM MARCHA”

Quase uma década depois de “Juventude em Marcha” ter irrompido sem aviso, épico e rumorejante, os seus segredos continuam cada vez mais crípticos, a sua construção ainda mais imponente. Da escuridão e estrilho do primeiro plano, à serenidade e apaziguamento do último, um movimento deambulatório que cega perante a repelente e fria brancura de um novo mundo imposto, acalorando-se e sentindo-se em casa na escuridão que ficou dos passados soterrados. Ventura, o Pai e o Guerreiro que não se rendeu, vai escavando por entre os espectros que restaram dos extermínios ao seu povo e à sua terra, e assombrando essa limpeza intolerável com a sua potente sombra. Estátua incrédula que rasga obliquamente as trevas alvas; para estacionar disponível e vertical pelos refúgios clandestinos das emoções dos quartos de família. Figura comum e mítica que na sua obstinação silente e radical produz e autoriza a moral, a distância, a beleza sumptuosamente justa do trabalho de Pedro Costa. Trabalho de mãos, de carne, suor, cérebro, subtileza, risco, onde a câmara que assim trabalha com a luz e os volumes tanto pode ser comparada ao pincel do artista como aos instrumentos dos operários, se utiliza de uma verdade da correnteza e formação do sangue, essa tinta e massa primordial para a vida e para a morte. Companheirismo, Hawksianismo, onde só o pacto e a confiança incondicional entre tudo e todos permite a fidelidade e a emancipação das obras e dos actos íntegros. Arte e vida feito cosmos indivisível, as escalas precisas e os ritmos adequados do cinema; a respiração e a forma que o possibilita. “Rio Bravo”, como as chegadas que importam às estações de comboios, podem acontecer em qualquer lugar, em qualquer tempo.

José Oliveira