FREEDOM
França, Portugal e Lituânia | 2000 | 35mm | Cor | 96′
Realização: Sharunas Bartas

Sinopse
Dois homens, Dizzy e Rotamon, e uma rapariga, Fabia, iam levar para bordo de um barco ao largo da costa marroquina um carregamento de droga para vender no estrangeiro. Quando a operação falha, a polícia quase os apanha, e eles ficam abandonados na costa sem grandes hipóteses nem esperanças. Vagueiam em silêncio no deserto à procura de comida, água e abrigo.
Os dois homens desentendem-se e resolvem separar-se, Rotamon decide continuar sozinho e Fabia opta por seguir Dizzy. Se inicialmente se olham com estranheza, apesar de nem sequer falarem a mesma língua, começa a surgir entre o homem e a rapariga uma cumplicidade serena.
De oásis em oásis, sem se conseguirem orientar com precisão, chegam uma antiga vila colonial. São acolhidos, alimentados e integrados pela comunidade composta por duas famílias muito pobres. Mas acabam por ter de voltar a fugir pelo deserto, mais perdidos que nunca.

 
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NOTA SOBRE O PORQUÊ DA ESCOLHA DO FILME “FREEDOM” DE SHARUNAS BARTAS

De há anos para cá que vou muito pouco ao cinema, o que me impede de ter uma perspectiva geral e comparativa do que se faz hoje. Vi alguns bons filmes de grande qualidade de imagem, som, desempenho de actores, banda sonora, etc. Classifico-os no que chamo de entretenimento de qualidade, seja popular ou intelectualizado. Sucede-me que os esqueço facilmente.

Isto não aconteceu com o filme “Freedom” de Sharunas Bartas, fez-me pensar durante e depois da projecção, o preço da liberdade, isolamento, exclusão e morte, tal como na vida real.

O cenário é muito do meu gosto, céu, mar, praia. No início fez-me falta mais informação sobre a origem das personagens, que ao longo do filme se foi tornando irrelevante, ampliando o conceito de liberdade.

Das três personagens que sobreviveram ao naufrágio, a mais lúcida (homem do choro-riso) rejeita o compromisso com o mais responsável pelo sucedido, apesar de este o aliciar com os caranguejos. No caso da mulher, tenta a comunicação através da linguagem oral e do olhar, tenta inserir-se na família de pastores que a rejeita, dá-lhe afecto e só depois a deixa, para continuar só, a caminhada até ao mar, até à morte.

A duração dos planos e forma como as personagens saem de campo, obriga o espectador a ficar a sós com a Natureza, céu, mar, areia, vento e consequentemente a pensar, reflectir, sentir, distanciar, desdramatizar, aceitar. A dimensão e densidade desta obra transportou- me para além do entretenimento.

Manuela serra, Outubro de 2011