BENJAMIN GEISSLER
1964 | Ohrbeck | Alemanha

BENJAMINGEISSLER

Biografia:
Iniciou a sua carreira como editor de filmes e documentários tais como “Broadway Bound” de Neil Simon, “Simple Men” de Hal Hartley, “Bad Lieutenant” de Abel Ferrara, tendo-se especializado em trabalhos de pesquisa de longa duração. Vive atualmente em Hamburgo.
http://www.benjamingeissler.de/

Filmografia:
1989 – Bussmanns im Wald, 90′
1994 – Vincenzo Floridia, oder die letzte Rose von Noto, 69′
1997 – Zeitsprung, 96′
1999 – Bilder finden, 107′
2008 – Lost Pictures ∞ Lost Memory? 98’

 

ENTREVISTA por Maria Lino (Jornal dos Encontros Cinematográficos 2010)

Quando é que começaste a utilizar os filmes como meio de expressão para a tua criatividade?
Já em criança me interessavam os filmes e a linguagem visual. Mas foi só em 1985 – após 7 anos de silvicultura – que decidi aprender a profissão de cineasta. Não foi um caminho fácil, mas quase exclusivamente autodidáctico, até me ter sido atribuído um pequeno papel no filme “Stromboli” e o cargo de segundo assistente de realização no filme “trotzdem!”, de Karl Fruchtmann, rodado principalmente em estúdio.

Qual o primeiro filme que fizeste e como foi essa experiência?
O meu primeiro filme, “Bussmanns im Wald“, de 1990, baseou-se na minha própria vida e experiência no trabalho florestal.
Trata-se de uma observação documental de longa duração – uma forma de fazer filmes que proporciona muitas vantagens visuais e narrativas. Quando se pesquisa bem e se obtém a rodagem certa com uma sequência precisa do material de montagem, alcançam-se resultados muito convincentes e substanciais. Tais trabalhos são, infelizmente, raros, apesar de os resultados justificarem os custos. Tempo e reflexão são duas das chaves para a compreensibilidade.

Quais são os momentos no teu trabalho de que mais gostas, os mais importantes para ti?
Sou uma pessoa curiosa. Quando me interesso por um tema, começo a pesquisar, leio e pergunto às pessoas que penso que me podem ajudar.
Este trabalho dá-me muita alegria. Muitas vezes, a pesquisa vai para além daquilo que eu efectivamente precisaria para o filme. No entanto, na rodagem de documentários, frequentemente não se sabe se irá aparecer um momento ainda mais interessante, o qual depois até se poderia integrar na obra. Esta tensão, e também a necessária abertura, agradam-me muito, esta receptividade ao Outro. Vem então a montagem, o prato esperado, a reflexão acerca do que foi anteriormente feito. E disso também gosto muito. É quando a concen-tração aumenta: o que é importante para mim? O que posso deixar de parte? Nesta fase, tento fazer jus às pessoas que estiveram perante a minha câmara. Paralelamente ao tema do filme, procuro esboçar um extracto da sua personalidade, tal como eu a vivenciei. Agrada-me a diversidade das pessoas e das paisagens em que me movo…

Tens sempre um novo filme na “algibeira”?
Nem sempre. Porém, há já uns bons 5 anos que tenho um guião pronto, de minha autoria, para um filme de ficção – “Messina”, a busca de um pai durante mais de 40 anos entre a Sicília e a Ale- manha, com o envolvimento da Máfia, e algumas experiências biográficas retrabalhadas.

Que dificuldades surgem e como reages a elas?
Que hei-de fazer, quando não recebo financiamento algum para este projecto Low-budget, apesar do interesse textualmente explícito de co-produtores sonantes, alemães e italianos, da RAI-Cinema na Alemanha? Tento realizar outros pequenos projectos. Mas no panorama internacional dos filmes e da televisão, repleto de corrupção, estupidificação e embrutecimento dum público orientado por quotas de audiência, também não é fácil…

Sobre a escolha “Uccellacci e uccellini” de Pier Paolo Pasolini…
Este filme de Pier Paolo Pasolini de 1965 nunca mais me abandonou desde que o vi pela primeira vez no cinema Arsenal, em Berlim, em meados dos anos 80.
Penso que ele ainda pode narrar hoje em dia o povo, e tão bem como no seu tempo. O visionário Pasolini expressa nos seus irónicos filmes, com alguma antecipação, o fim do tempo das ideologias. Ele procura num mundo da estupidez e da injustiça algo novo, através das ideologias e das suas tentativas de manter o poder perdido. Há a circularidade da humanidade – a vida e a pro- cura pela justiça num mundo injusto. Há o poder da poesia, a procura de superação da ideologia.
Uccellacci e ucellini é uma obra-mestra de Pasolini e, simultaneamente, um ponto final no neo-realismo italiano. O filme apoia-se no napolitano Totò, com um habitual nos filmes de Pasolini, Ninetto Davoli, bem como um corvo falante. Duas histórias entrelaçadas são contadas: a conversão difícil, em nome de São Francisco, de pardais e corvos ao “amor”, ao mesmo tempo que Totò e Davoli são acompanhados por um corvo falante. Em ambas as histórias está presente a nostalgia do confronto do “amor” com a realidade.
O material documental de montagem das multidões no funeral de Palmiero Togliatti, secretário- geral do PCI, revela-se, para mim, neste contexto, como o fim das ideologias, como o facto de os falcões, ainda que convertidos, caçarem pardais.