JOSEPH MORDER
1949 | Trindade e Tobago | Porto de Espanha

JosephMorder

Biografia:
Passa grande parte da sua infância em Guayaquil no Equador até partir para Paris em 1962. Ele guardará do seu passado sul-americano, imagens ricas em cor que futuramente influenciaram a sua obra. Depois de 1970, com os Arquivos Morlock, regista todo o tipo de manifestações (1º de Maio, campanhas eleitorais,etc.) em diversos documentários, assim como realiza numerosas ficções. O jornalismo (“Cinema”) assim como o ensino fazem também parte das suas atividades. Paralelamente, enriquece o seu trabalho narrativo ao utilizar a sua experiência pessoal e as suas recordações., iniciando o seu diário filmado, logo a partir de 1967 que prossegue até aos dias de hoje, juntando mais de cinquenta horas de memórias, arquivos, viagens. Figura marginal do cinema underground francês, ele constrói ao longo de 30 anos uma obra que se confunde com a sua própria vida.

Filmografia (Selecção):
1973- Avrum et Cipojra, 10’
1979- My Mother was a Star 23’
1980- Le Grand Amour de Lucien Lumière, 8’
1980- Le Mariage de Joseph avec Alain Bedos, 20’
1980-81- Les Sorties de Charlerine Dupas I, II, II : l’Été, 10’
1983- La Maison de Pologne 56’
1984- Charles Lechar : 1-Rendez-vous des Randu 10’
1986- Mémoires d’un Juif Tropical, 80’
1988- L’Arbre Mort 93’
1991- Romamor (Lettre Filmée Berlinoise), 92’
1992- Carlota, 25’
1995- Voyage à Rouen, 23’
1997- La Reine de Trinidad, 47’
1997- Plage (La), 14’
1999- La Gare de…,33’
1999- Mes sept mères, 77’
2001- Assoud le buffle, 45’
2005- El Cantor, 90’

 

ENTREVISTA por Barbara Spielmann (Jornal dos Encontros Cinematográficos 2010)

Que espécie de cineasta é o senhor, Joseph Morder?
Desejo ser, antes de mais, um encenador: o cineasta é para mim aquele que recria, através do ecrã, a sua visão da vida. O meu desejo é contar ao público histórias de que gosto, algumas delas inspiradas em acontecimentos autobiográficos. O essencial é compor um espectáculo visual onde o público eventualmente se compraza. Se remanescesse algo no espírito do espectador por tempo indeterminado seria para mim ouro sobre azul…

Para Alain Cavalier, você é um ‘filmeur’, isto é, alguém que filma todos os dias como quem pinta. Reconhece-se nesta definição?
Reconheço-me na definição de Alain Cavalier, na medida em que me considero um pintor que trabalha no seu atelier o dia inteiro: estou à cata da mais ínfima mudança de luminosidade e acrescen- to-a ao quadro filmado que estou a pintar. Essa é, essencialmente, a função do meu diário-filmado: este trabalho de atelier permite-me elaborar as minhas ficções hollywoodescas.

Françoise Michaud é a sua atriz fetiche ?
Françoise Michaud é a minha musa inspiradora. Encarna, para mim, uma espécie de glamour hollywoodesco, revisto pela Nouvelle Vague. Comparo-a também a Katharina Hepburn nas comédias do pré-guerra de Howard Hawks ou de George Cukor, e a Ingrid Bergman em Viagem a Itália de Roberto Rosselini… É a actriz que encarnou todas as personagens femininas dos meus filmes: a mãe, a amante, a irmã, etc.

Que laços mantém com as cidades e as viagens nos seus filmes, particularmente em Romamor, com Paris, berlim e Roma?
Gosto muito de filmar as cidades e a deslocação. Nos meus filmes, as cidades são inteiramente personagens como as outras. Em Romamor, é esse o caso de Roma, de Berlim e de Paris. Sinto um amor particular por Berlim, que já filmei em diversas ocasiões: para mim, é a cidade de todos os paradoxos (em particular aquele que se prende com a minha relação com a Alemanha enquanto judeu e filho de uma deportada) e que representa no fundo aquilo que sou e quero ser: um judeu de cultura alemã, como os oriundos da Europa de Leste.

Tem a reputação de ser um cineasta auto- biográfico e underground. Como conseguiu passar deste tipo de cinema (como o tal diário filmado em super 8), a um cinema quase hollywoodesco em 35mm?
Do que eu gosto é explorar todos os campos possíveis da cinematografia. Nunca me considerei um cineasta experimental ou underground.
Intercalo os filmes autoproduzidos que rodo por mim mesmo (como o meu diário filmado) com filmes de ficção produzidos por uma estrutura “normal” e rodeado de uma equipa numerosa: para mim, tudo faz parte do mesmo trabalho, e trabalho todos estes filmes com o mesmo estado de espírito.
Se me considero um cineasta de inspiração Hollywoodesca, é porque cresci nesse ambiente enquanto espectador (durante a minha infância latino-americana) e porque este cinema ultra- passa todos os limites: os grandes cineastas de Hollywood contêm uma parte de experimentalismo, de autobiografia e de grande cultura artística. É assim que eu me reconheço neles, bem como em muitos outros cineastas pelo mundo fora (tal como os da Nouvelle Vague, em boa parte influenciados pelo cinema de Hollywood).