TATAKOX – ALDEIA VILA NOVA
Brasil | 2009 | Cor | 21’
Realização: Comunidade Maxakali Aldeia Nova do Pradinho

Sinopse
Quando as mulheres sentem saudade das suas crianças que morreram pequenas, os Tatakox vão buscá-las e trazem-nas às aldeias para que as mães as vejam. Com a filmadora nós pudemos ver de onde os Tatakox tiram as crianças. Depois, no mesmo dia, os meninos vivos da aldeia são levados por de suas mães pelos espíritos para ficar na casa dos homens e aprender.

 

TATAKOX

Por que escolhi esse filme? Primeiro porque é um olhar espontâneo, uma coisa instintiva, de reação. Um grupo Maxacali (não sei se esse é o nome, exatamente, penso que seja o nome que os brancos deram a eles) fez um filme sobre aquele mito, aquele ritual. E o outro grupo, afirmando que não era nada daquilo que foi mostrado, resolveu fazer o seu próprio filme, para mostrar como é, de fato, o ritual. Aí fizeram Tatakox, um olhar direto, montado na câmera.

Quando falamos de cinema, a meu ver, esse pequeno curta é o mais próximo da ideia de imagem pra revelar alguma coisa, um mito. Não se tem a menor ideia de representação, a apresentação que eles fazem para a câmera é a imagem da própria existência viva, “presentação” da natureza. É o cinema puro querendo expressar algo que outro não conseguiu expressar. É a coisa mais próxima do uso da tecnologia de imagem para um sentimento de imediatez, de possibilidade de captação do sentimento daquilo que está sendo filmado. Nesse sentido é um cinema-mente. Não um cinema de especulação, estratégia, narrativa, linguagem.

Poderia ter escolhido outros títulos, mas eu só posso falar daquilo que conheço, mas não falar daquilo que outro fez. Não sou um crítico, uma pessoa que vê de fora, um analista. Tatakox é um filme para provocar perguntas e trocar ideias sobre essa intuição, esse estado. Qualquer pessoa que faz cinema não quer discutir mercado, distribuição, dinheiro, produção, não tem a ver com isso. Tem mais a ver com a mente, a materialização do imaginário, do que com qualquer outra coisa. Talvez esse filme seja como o trem do Lumière. Está mais próximo do início, da compreensão do que é fazer um filme.

Andrea Tonacci