VICTOR ERICE
1940 | Carranza | Espanha

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Biografia:
Víctor Erice estudou em Madrid na “Escuela Oficial de Cinematografía” (EOC).
Em 1973 realizou a sua primeira longa-metragem, “El espíritu de la colmena” e em 1983 realizou “El sur”, obra inacabada. Em 1992 foi o ano de “El sol del membrillo”, realizada em colaboração com o pintor Antonio López.
Em 2002 rodou “Alumbramiento”, episódio de “Ten Minutes Older, em 2005 “La Morte Rouge” e em 2011 “Ana, três minutos”, episódio de “A sense of home”. Em 2012 realizou em Portugal o seu último filme, – “Vidros Partidos – integrado no projeto “Centro Histórico”.
Paralelamente ao seu percurso de realizador, desenvolveu cursos de reflexão cinematográfica e escreveu vários artigos desde os anos 60, integrando a redação de “Nuestro cine” e colaborando atualmente com a revista francesa “Trafic”.

Filmografia:
1973  “El espíritu de la colmena”
1983  “El sur”
1992  “El sol del membrillo”
2002  “Alumbramiento”, episodio de “Ten Minutes Older: The Trumpet”
2005  “La Morte Rouge”
2011   “Ana, tres minutos”, episodio del largometraje internacional “A sense of home”
2012   “Vidros partidos”, que forma parte del largometraje “Centro histórico”

 

CONVERSA COM VICTOR ERICE por José Oliveira e Mário Fernandes (Jornal dos Encontros Cinematográficos 2015)

Na parafernália dos efeitos e das ideologias que tomaram conta do cinema de hoje, ainda faz sentido o dito de Eric Rohmer: “os limites do cinema são os limites da realidade”?

Sim, de certa forma, uma vez que o cinema, pela sua natureza, está obrigado a prestar contas à realidade. Não acontece o mesmo à literatura, à pintura ou à música. Refiro-me aos limites de carácter ontológico que o cinema tem desde as suas origens. Outra coisa, bem distinta, são as limitações convencionais, de ordem económica, industriais, etc…

Muitas vezes disseste que não fazer um filme é tão importante ou mais do que fazer por fazer. Como lutar contra as formatações, o mercado, os festivais e as modas? Que conselhos costumas dar aos jovens nas tuas aulas?

A razão que nos leva a realizar um filme deveria ser profunda, de autêntica necessidade. O Jean Eustache questionava-se várias vezes: Porque se fazem filmes? Para que serve fazê-los? São perguntas essenciais que todos os cineastas se deveriam colocar. Conselhos aos jovens? Não muitos…Trata-se, sobretudo, de aprender gravando, filmando. Isso sim, lembro aos meus alunos que ninguém os obriga a ser realizadores de cinema: é uma escolha. Devem, por- tanto, ter consciência de que realizar um filme é uma actividade que compromete. Não se podem fazer certas coisas, há certos limites que formam parte da moral de um cineasta, ou mais humildemente do seu grau de conformidade, o que se manifesta no acto de rodar.

Que consequências pessoais (ou seja, cinematográficas) resultaram da não realização de “La promesa de Shangai”?

Essa foi uma experiência muito frustrante, dediquei-lhe três anos da minha vida. Tentei fazer um filme que era uma homenagem ao cinema clássico, ao cinema da minha infância. Foi provavelmente o projecto mais popular que tive nas mãos. Que pena!

À nossa volta está tudo cheio de videoclipers, documentaristas experimentais, videoartistas, trailers para conferências…E há outros (como o James Benning) que se auto-intitulam de “artistas visuais” com medo da palavra cineasta…Como olhas para fenómenos deste género?

Não olho para classificações ou formatos. O que importa são as obras, os resultados.

Achas que o cinema corre o risco de desaparecer por um excesso cada vez mais aleatório de imagens e sons? Algures fazes uma distinção entre imagens e planos. Como escolher, por exemplo, entre a beleza de uma imagem e a justeza de um plano?

Quando era jovem acreditava na beleza da imagem, mas hoje acredito, sobretudo, na justeza do plano. Porque o cinema – esta é uma das lições que aprendi – não é uma questão de imagens, mas de planos. A beleza de um plano, a sua justificação, o seu acerto, é algo muito diferente da beleza de uma imagem. Os planos são a forma de as imagens respirarem. Tem que ver, sobretudo, com a duração, o ritmo. Ao ponto de se poder dizer que só há cinema, verdadeiro cinema, quando as imagens respiram. Caso contrário, fecham-se sobre si mesmas, e apenas ostentam uma beleza decorativa.

Porque escolheste estes filmes para mostrar nos “Encontros Cinematográficos”?

São os meus filmes mais recentes. Dois deles tratam da memória particular, individual, muito próxima da autobiografia. O último, “Vidros Partidos”, aborda uma forma de memória que é colectiva no essencial. Acredito que da sua visão conjunta se pode desprender um contraste interessante.